terça-feira, 25 de novembro de 2008
BIS!
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
A poesia quando chega... no TRT!
O grupo de Dizedores conta com a participação dos servidores Flávia Cortes Silva, da 3ª Vara de Camaçari e Joel Leal, da 2ª de Salvador, e é composto por integrantes da Escola Lucinda de Poesia Viva, com sede no Rio de Janeiro. A proposta é emocionar o público com a interpretação de vários poemas marcantes como Poema Em linha reta, Se te queres matar e O guardador de rebanhos.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
TUDO VALE A PENA SE A ALMA NÃO É PEQUENA!
BOM DIAAAAAAAAA!
Bom dia!!
Acho que todos nós, os comentários têem sido os melhores.
Oi queridos,
Gente!!!!
Eu tb estou muito orgulhosa.
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Lá vem Fernando... em Pessoa(s)
O espaço da loja de livros, Galeria do Livro, nos acolheu mais uma vez... Aí, em troca, retribuímos com muita poesia! As cores de todas as imagens que vieram à tona com os poemas misturou-se com todas as cores da Casa Cor... foi mágico!
Agora todas as energias se voltam para Fernando Pessoa, suas pessoas e nossas pessoas. Com ensaios desde julho e, intensificados a partir do último workshop com a Escola Lucinda, em setembro, a atmosfera dos versos dos 'eus' de Pessoa de fato nos envolveu. Eram poemas que antes a gente nem gostava muito (até pela dificuldade de compreender o que estava sendo propriamente dito) e que hoje amamos. Todas as nuances dos heterônimos são trazidas à superfície e as sutilezas da alma desse poeta, agora um pouco mais compreensível, nos encantam.
O estudo da obra poética do Fernando Pessoa é provocante, inspirador e transformador! Não é à tôa que todos os núcleos da Escola Lucinda de Poesia Viva estão comemorando os 120 anos de nascimento do poeta, apresentando o recital: "Fernando transformando Pessoa(s)". Una-se a nós nesta celebração!
às 19h, na Livraria Saraiva (L2, Salvador Shopping),
para o recital desse grande poeta!
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Novos Ventos!
É que agora sopram novos ventos... ventos de mudança... mas a poesia ainda reina!
E, apesar do atual processo (de reorganização) os recitais não param!!!
No dia 29 de setembro, "A poesia quando chega..." invadiu o Auditório da Escola de Administração da UFBa!!! Era um auditório amante de leitura e da literatura, sedento por poesia e, naquele momento, era todo nosso! IN-CRÍ-VEL!!! Chegamos cheios de Adélia, Quintana, Pessoa, Leminski e Drummond... então a emoção veio à tona através de nossas vozes e nossos versos (porque, no fim, o poema também acaba sendo do seu dizedor, rs)! Joel emocionou a todos com o Poema em Linha Reta. Fátima fez quase todas as mulheres do auditório a também desejarem brigar no beco. Marina misturou sua doçura com a de Quintana no "Se eu fosse um padre". Carlos encantou com seu Intenso Brilho. Eliana voltou pra ficar, e com todas as suas vidas. Jina chegou com Liberdade. Tiago confessou que já não pode mais andar só pelo caminhos. Pedro ganhou o auditório com sua Balada do Amor. Inês? Atendendo ao pedido dela "Por favor, não me analise...", não faremos comentários . E eu, Renata (essa que agora vos fala) aproveitei para fazer como o mestre Caieiro diz e deixar os versos partirem para a Humanidade.
Agora o momento é de estudo e preparação para os próximos recitais... principalmente para o recital de Fernando Pessoa. Quase todos os poemas já estão escolhidos e alguns até já bastante ensaiados. No mais, é curtir o recital de domingo (Diversificando... na Casa Cor) e continuar com o pensamento no Pessoa.
Até breve!
Diversificando... na Casa Cor Bahia 2008
Dia 19/10, às 19:30h, no espaço da Galeria do Livro na Casa Cor (Hotel da Bahia).
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Casa Cor terá recital de poemas eróticos
*Da Redação
Poemas eróticos de Carlos Drummond de Andrade, Bocage, Manoel Bandeira e Gregório de Matos vão marcar presença na 14ª edição da Casa Cor Bahia.
No próximo dia 28, a Loja de Livros, assinada pelo arquiteto Emerson Carvalho e pela designer de interiores Selma Bandeira, recebe o recital Amores Diversos – Poemas de Amor e Erotismo, promovido pela Escola Lucinda de Poesia Viva, da atriz e poeta Elisa Lucinda.
O recital tem apoio da livraria Galeria do Livro e é apresentado pelo grupo “A Poesia Quando Chega...”. O evento começa às 19h30 e é destinado exclusivamente ao público adulto.
A 14ª edição da Casa Cor está instalada no Hotel da Bahia, Av. Sete de Setembro, 1537, Campo Grande, até o dia 26 de outubro. O evento funciona de terça a sábado, das 16h às 22h e aos domingos, das 16h às 21h. O ingresso custa R$ 25 (preço único).
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Mês de Aniversário
"A Poesia quando chega..." no Projeto Livro Livre Salvador 2008 - no Iguatemi.
Queríamos mais, queríamos ousar e começamos a ficar seduzidos com a idéia de um recital erótico. Na verdade, inicialmente ia ser um recital para o dia dos Namorados. Foi pintando amor e erotismo nos poemas. Inês trouxe para o grupo livros preciosos da biblioteca do pai. Um era de Boccage e outro de poemas eróticos de autores consagrados. Chegou também o "Amor Natural", de Drummond. A gente ia lendo e gostando. Começou a guerra: tinha poemas com três amantes, e só um deveria dizê-lo; tinha gente apaixonado por poema que o grupo vetou. Altas negociações e brigas: esse poema é MEU, eu peguei primeiro! Nada disso, eu JÁ decorei! Afinal, depois do furor inicial, cada um foi escolhendo (ou sendo escolhido por) um poema. O recital foi se delineando. Amor e erotismo não se separavam mais. E o prazer era todo nosso. Então, queríamos compartilhá-lo! Novo recital pronto. Mais apresentações. Renata criou nossa logomarca e fez um banner lindo com a nossa logo e a da Escola. É o nosso estandarte!
É preciso agradecer a todos que nos apoiaram nessa caminhada: à PaperBall Productions, que grava e produz os DVDs das nossas apresentações; à Galeria do Livro e à Saraiva MegaStore, por nos receberem sempre de portas abertas; e à Marina, por permitir que o Restaurante Ramma fosse nossa primeira casa.
Queremos fazer um agradecimento especial às nossas mestras: Geovana Pires e Emilene Lima pela disponibilidade e compromisso com que nos acompanharam neste nosso engatinhar pelo chão dos versos. Queremos expressar a nossa gratidão à sonhadora e realizadora mestra Elisa Lucinda, ela que desdobra fibra por fibra o nosso coração de aprendizes até que a poesia renasça das páginas dos livros pelo poder das nossas vozes, dos nossos gestos, da nossa emoção. Elisa que nos ajuda a dizer versos e declarar VIVA a poesia, a ela o nosso reconhecimento e a nossa mais poética gratidão!
No dia 13.09 (dia de encerramento do Workshop com Elisa Lucinda, com um lindo recital), "A poesia quando chega..." fechamos o ciclo do seu primeiro ano! Entretanto, nossas comemorações não pararam por aí: em nossas conversas por e-mails, surgiu a idéia (Salve, Eliana Mara!) que as nossas comemorações não se resumissem a um só dia, para que todos pudessem estar presentes pelo menos um dia. Então surgiu o "Mês de Aniversário"... e pegou!
Brincadeira... na verdade a agenda foi enchendo e, nem nos demos conta que coincidia com o nosso mês. Sendo assim, para dar continuidade ao nosso mês, hoje nós, do grupo "A poesia quando chega..." estamos embarcando para Itapetinga, para participar amanhã do evento PROLER, na Universidade. Estarão também conosco participantes do último workshop, que nos ajudarão a dar voz para a poesia nessa empreitada!
Ah! Dêem uma olhada em nossa agenda e, programe-se!
20/09/2008 – PROLER – Itapetinga: Diversificando...
28/09/2008 – GALERIA DO LIVRO - CASA COR: Amores Diversos – Poemas de Amor e Erotismo
29/09/2008 – Encontro GEELING/UFBA: Diversificando...
19/10/2008 – GALERIA DO LIVRO - CASA COR: Recital Fernando Pessoa
26/10/2008 – SARAIVA MEGASTORE: Recital Fernando Pessoa
Até a volta!
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Workshop de Poesia Falada em Salvador
terça-feira, 26 de agosto de 2008
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Repeteco
sexta-feira, 18 de julho de 2008
A poesia é a dona da casa
A Casa Poema passará a ser a sede da Escola Lucinda de Poesia Viva, que, já há dez anos, oferece cursos e workshops com temas relacionados à poesia e ao teatro. O prédio de dois andares será aberto ao público, e contará com uma biblioteca, um charmoso café e um pequeno teatro - o Teatro Possível - com capacidade para 70 espectadores.
A casa também terá uma área de convivência ao ar livre, e sediará escritórios que atenderão a todo o País, coordenando a demanda por workshops idealizados pelos professores da Casa Poema. Eles correm o Brasil para levar ao público e a profissionais do ramo a idéia de que a poesia está muito além da declamação, da divisão de versos ou até mesmo da rima.
Na noite da inauguração do novo espaço, a entrada será a doação de um livro, novo ou usado, para o acervo da biblioteca da casa. Mas o livro deverá conter a dedicatória do doador, seguindo a mesma idéia dos cadernos que Elisa deixa abertos às manifestações dos espectadores ao final de suas sessões teatrais.
Está programada a leitura dramatizada da peça "Mestre Caeiro - O descobridor da natureza", de Fernando Pessoa. Desta vez, o tradicional "Sarau da Lucinda" também acontecerá no finalzinho da noite de sexta-feira. O sarau é habitualmente realizado na casa de Elisa Lucinda, onde são presenças constantes os cantores e compositores Antonio Villeroy, Beth Carvalho, Anna Carolina e Leila Pinheiro, além de outros famosos admiradores da arte das palavras.
"É um sonho de dez anos. Reformamos a casa, penduramos flores de tecido nas paredes... está linda! Lá a poesia é a dona da casa. Nossa intenção é desenvolver a linguagem poética aplicada à vida, tanto em adultos quanto em crianças", vibra Elisa.
A principal crítica da poetisa é a priorização da forma da poesia em detrimento do conteúdo. "É muito comum nas escolas os professores apresentarem aos alunos a poesia dessa forma estagnada. Não pode ser assim. A poesia é uma conversa, é uma experiência tão pessoal que, a cada vez que uma pessoa contar uma, vai ser de forma diferente. Na leitura, a gente não tem que parar de respirar porque ali tem um ponto, ou porque termina a linha. Temos que ser movidos pelos nossos sentimentos", diz.
Também será possível comprar os livros de Elisa Lucinda, que são muito procurados pelos que defendem a posição da poetisa contrária à "mecanização" da arte poética. "A poesia deve existir para o ser humano, como auto-ajuda, e não deve ficar escondida dentro dos livros da escola. A Casa Poema será a casa da linguagem, onde a poesia será uma conversa", diz Elisa.
Passeio pela Casa Poema julho de 2008
Colocado por julianorj
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Se Maomé não vai à montanha...
... a montanha vai até ele. Foi o que aconteceu nessa última terça-feira: tivemos, em nosso encontro as presenças importantes de Elisa Lucinda e Geovana Pires, queridas amigas e professoras da Escola Lucinda de Poesia Viva. Elas vieram abrir nossos olhos para o Fernando Pessoa, e os vários outros que ele era. Leram muita poesia e nos mostraram os caminhos do poeta. Fica então o registro desse encontro e o poema escolhido para uma leitura "coletiva".
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos
domingo, 29 de junho de 2008
Mais Pessoa
Aos olhos dos outros, um homem é poeta se escreveu um bom poema. A seus próprios, só é poeta no momento em que faz a última revisão de um novo poema. Um momento antes, era apenas um poeta em potencial; um momento depois, um homem que parou de escrever poesia, e talvez para sempre."
(W. H. Auden)
A minha idéia do Universo é que é uma idéia minha.
A noite não anoitece pelos meus olhos,
A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos.
Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos
A noite anoitece concretamente
E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso.
Alberto Caeiro
sexta-feira, 27 de junho de 2008
O que é necessário é criar
NAVEGAR É PRECISO
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
“Navegar é preciso; viver não é preciso”.
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
Transformada a forma para a casar com o que eu sou:
Viver não é necessário, o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida, nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
Ainda que para isso tenha que ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
Ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
O propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
Para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo de nossa raça.
Fernando Pessoa
terça-feira, 24 de junho de 2008
Noite de São João
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.
Alberto Caeiro
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Metafísica de Pessoa quase leva a poesia ao ringue
Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Daqui da Bahia, cultivamos e enviamos para plantio no quintal da casa uma árvore de gratidão, entusiasmo, ousadia, compromisso, coragem, amor à poesia, encantamento e cumplicidade. A sua semente veio do Rio, no coração de Elisa e Geo. Nós, aqui, éramos terra fértil e nem sonhávamos... Mas, foi acontecer o encontro e germinou uma planta dadivosa que nos nutre e nos pede cultivo contínuo, pois cuidá-la nos torna mais vivos.
Finalizamos confirmando os subversivos versos do poeta e oferecendo-nos para, juntos, incendiar o país de poesia e com POESIA!
terça-feira, 17 de junho de 2008
Aniversário - Fernando Pessoa
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Amores Diversos - sobre o nosso recital.
Assim, gostaríamos de agradecer a presença de todos que nos prestigiaram com a sua presença. Também é preciso agradecer à Saraiva, na pessoa de Simone que estabeleceu conosco mais que uma parceria, uma cumplicidade; à Paperball Productions, que tem nos acompanhado em nossas apresentações e ajudam a eternizá-las e a levá-las a quem não pôde vir, através da filmagem e produção primorosa dos nossos dvd’s; e também à Escola Lucinda de Poesia Viva.
Escolhidos os poemas vamos para a compreensão, a busca das imagens. Falar poesia com a palavra VIVA e pulsante. O grupo junto, estudando os poetas, a época, as expressões, o contexto do texto, as palavras desconhecidas. Todo mundo se ajudando numa construção coletiva.
Depois vem a fase das leituras, da memorização e de dar... o Poema! A memorização nos põe em milhares de situações inusitadas, tem gente falando sozinha enquanto dirige, tem gente brigando na frente do espelho, tem gente imaginando o que o poeta viveu pra escrever aquilo, tem gente fazendo caras e bocas sem se dar conta de que está em lugar público, gente falando poema enquanto escova os dentes... Aí, chegam os ensaios. Essa é a fase mais desafiadora: emprestar o próprio corpo com os sentimentos e gestual, e a própria voz para dar expressão e vida a um poema, diante do olhar do outro. Sim, porque é diferente de falar sozinho, ou no espelho. O desejo e o medo de receber as observações e críticas para melhor sintonizar o dito com o que se quer dizer. Afinar o sentido (compreensão) com o sentido (emoção). Geovana, professora da Escola veio do Rio e passou a semana do recital conosco, trabalhando cada um de nós com ‘nossos’ poemas.
Nossa próxima empreitada será pelos versos de Fernando Pessoa e seus outros eus. Ele estaria completando 120 anos de nascimento hoje, 13.06. Em breve, postaremos maiores informações sobre ele e sobre o recital em sua homenagem.
“A Poesia Quando Chega...”
terça-feira, 20 de maio de 2008
Amores Diversos
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Os Pocket Poéticos estão chegando...
O POCKET POÉTICO trará ao público uma breve compilação dos poemas de Manoel Bandeira, Adélia Prado, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski, Mario Quintana, Elisa Lucinda, entre outros. A apresentação começa pontualmente as 13 horas, nas instalações do restaurante.
Restaurante Ramma - R. Lord Cochrane, 76 -Barra Avenida.
Tel.: (71)3264-0044
Dias 20 e 27 de abril de 2008
A partir das 13 hs
quinta-feira, 3 de abril de 2008
Escola Lucinda de Poesia Viva - Documentário - Parte 2
Confira aqui o vídeo documentário produzido sobre a Escola Lucinda de Poesia Viva.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Escola Lucinda de Poesia Viva - Documentário - Parte 1
Confira aqui o vídeo documentário produzido sobre a Escola Lucinda de Poesia Viva.
domingo, 30 de março de 2008
A Poesia Chegou à Rádio...
segunda-feira, 10 de março de 2008
UM RECITAL QUENTINHO...
Fazendo uma releitura de diversos poemas de Adélia Prado e Mário Quintana, o grupo "A Poesia Quando Chega" comemora o dia Mundial da Poesia, com a realização de mais um recital para o público soteropolitano no dia 16 de março de 2008, às 18 hs, na livraria Saraiva Megastore, 2º piso do Shopping Salvador.
sábado, 1 de março de 2008
Mais um recital...
"A Poesia quando Chega..."
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
De Ferreira Gullar, a nossa inspiração...
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Somos diversos... dizedores de versos.
O workshop funcionou como uma semana de imersão poética, na qual todos os alunos provariam da “utilidade da poesia” dentro de suas próprias vidas, através do reconhecimento e identificação dos textos de vários poetas brasileiros, buscando o seu sentido, o seu tempo, suas emoções e o uso da palavra poética em um tom mais coloquial, fugindo do “modo declamado” já conhecido e, como culminância deste trabalho, foi realizado um recital chamado “A poesia Quando Chega...”, no Hotel Sofitel Quatro Rodas, em Salvador.
“...parece uma ‘clínica de desintoxicação’, onde os alunos entram totalmente “dependentes” daquela infame musiquinha de “batatinha quando nasce”, como se fosse uma ordem, como um uniforme melódico a aprisionar as inúmeras possibilidades dos poemas. Aqui, na Escola Lucinda de Poesia Viva, preparamos recitais que não deixam ninguém dormir na platéia, pelo contrário, emocionam, divertem e ainda ensinam. Quando a pessoa larga o “vício”, também se torna mais verdadeira com as palavras da sua vida particular; depois que aprende a falar poesia assim, como quem conversa de uma maneira bem coloquial, ela sai por aí pregando a palavra poética”.(Elisa Lucinda)
Pois é, como diria Ferreira Gullar, “A poesia quando chega, não respeita nada”. E não respeitou mesmo. A vontade desta turma garantiu a continuidade dos encontros e das atividades. E mais! A poesia possibilitou a formação de um verdadeiro núcleo de convivência (com divertidos encontros semanais), de afeto e de estudos literários para “dizedores de versos”, que hoje, adota como o nome a lembrança e a dilacerante coragem do seu primeiro recital.
E é dizendo versos que o grupo “A poesia Quando Chega...” transcende os seus constantes encontros poéticos e leva a poesia às pessoas. Atualmente, sua meta maior é comunicar a palavra poética através de recitais, saraus e outras intervenções poético-musicais, nas livrarias, bibliotecas, salas de aula, centros culturais e teatros da cidade Salvador. Dentre os trabalhos realizados estão: o Recital “A Poesia Quando Chega...” em setembro de 2007, “A poesia quando chega à CASACOR” em outubro de 2007 (evento em parceria com o apoio da Galeria do Livro /CASACOR Bahia 2007), “A Poesia Quando Chega falando Adélia e Quintana”, em janeiro de 2008, na livraria Galeria do Livro, grande parceira de suas empreitadas.
Assim, como todo trabalho feito com afinco possibilita o reconhecimento, o grupo “A Poesia Quando Chega...” hoje se orgulha em firmar a parceria com Escola Lucinda de Poesia Viva, cuja sede fica no Rio de Janeiro, para a constituição de seu núcleo em Salvador, através do qual serão realizados os workshops, palestras e eventos com a atriz Elisa Lucinda e sua equipe. Além disso, o grupo ainda destaca suas firmes parcerias, com a Galeria do Livro, que tem sido o principal apoiador na realização de seus recitais e com o Restaurante Natural Ramma, pelo acolhimento em sua estrutura física, na realização dos encontros poéticos.
Deste modo, a poesia chegou e tem se consolidado e a experiência de vivenciá-la tem reinventado a todos. Assim, o “dizer poesia” passou a fazer mais “sentido” e a ser mais do que falar as palavras dos outros, mas sim a descoberta do sentimento que há em cada palavra falada.